FPIES EM ADULTOS
- Renato T. Ashcar
- 3 de dez. de 2014
- 4 min de leitura
Prevalência de FPIES em Adultos
Tem sido informalmente relatado que a FPIES pode ocorrer em adultos, mas há somente 1 (um) caso publicado (1) até hoje e não existem dados epidemiológicos disponíveis.
Sintomas
A reação FPIES Aguda normalmente apresenta sintomas gastrointestinais com ou sem hipotensão como visto nas crianças (2). O início dos sintomas após a ingestão do alimento causador é normalmente tardio. O caso relatado por Fernandes et al. (1), descreveu como sintomas: vômitos; diarreia com sangue intensa; palidez e hipotensão. Isto ocorreu cerca de 95 minutos após a última dose do teste de provocação oral com vieiras. O início dos sintomas foi mais rápido do que o anteriormente sugerido pelo histórico do paciente (p.ex., 2 a 4 horas). Em crianças, normalmente ocorre de 0,5 – 6 horas após a ingestão2. Não se sabe se a FPIES Crônica pode ocorrer em adultos.
Diagnóstico
O padrão ouro para o diagnóstico desta doença é o Teste de Provocação Oral (TPO ou OFC) (3). Entretanto, por conta dos riscos associados às reações provocadas, o Teste deve ser feito em Hospitais. O Guidelines sobre Alergias Alimentares da NIAID atesta que, se os pacientes (bebês e crianças) relatarem múltiplas reações ao alimento suspeito, o diagnóstico pode ser baseado no histórico e na ausência de sintomas ao se eliminar este alimento da dieta (3,4). Não existe um guia em particular para a FPIES em adultos, bem como as medidas das doses necessárias para se diagnosticar essa doença em adultos.
TPOs podem ser considerados se o paciente realmente deseja obter um diagnóstico definitivo: se eles tiveram apenas 1 (uma) única reação; quando os sintomas são atípicos ou quando outro diagnóstico se parece com gastroenterite ou intoxicação por peixes escombrídeos.
O diagnóstico consiste em encontrar os sintomas clínicos típicos durante uma reação aguda, com o apoio de alguns marcadores laboratoriais como visto em crianças. O caso por Fernandes et al. (1) descobriu leucocitose neutrofílica cerca de uma hora após o início dos sintomas durante o TPO (em crianças, o pico é normalmente encontrado 6 horas após). Outros achados que podem ser encontrados são trombocitose, acidose metabólica, metemoglobinemia, leucócitos fecais e eosinófilos (2). Testes cutâneos e IgE específicos ao alimento em questão são normalmente negativos e os níveis de triptase sérica estão dentro dos limites normais (2).
Fisiopatologia
A fisiopatologia da FPIES ainda é muito pouco compreendida. É usualmente considerada como sendo um distúrbio mediado por células-T. Utiliza-se a hipótese de que a ativação das células-T pelo alimento alérgeno pode mediar uma inflamação intestinal local devido a um aumento da TNF-α, e uma diminuição na manifestação dos receptores TGF-β na mucosa intestinal. Isto causa um aumento dos neutrófilos periféricos. Ocorre também um aumento dos eosinófilos no trato gastrointestinal, mas isso não é determinante (5).
A ativação da Th2 pode estar envolvida na fisiopatologia da FPIES com um aumento da Interleucina (IL)-4 e a diminuição do interferon-γ encontrado após TPOs positivos, e aumento da IL-10 após TPOs negativos (5,6).
As respostas humorais observadas são um aumento nos anticorpos IgA e uma diminuição dos anticorpos IgG4. Respostas sistêmicas específicas ao anticorpo IgE são tipicamente ausentes na FPIES, mas anticorpos IgE ao alimento encontrados na mucosa do intestino têm sido postulados como um possível mecanismo (5).
Alimentos Envolvidos
Ao contrário dos alimentos que mais causam FPIES em bebês e crianças (como leite, soja, arroz e outros grãos, carnes e aves, ovos e algumas frutas e vegetais), a FPIES em crianças mais velhas e adultos é normalmente relacionada a frutos do mar (7). Fernandes et al. (1) relatou sobre um adulto com reação a vieiras que também reagiu a amêijoas no passado, o que é provavelmente devido a reatividade-cruzada observada entre moluscos. Isto sugere que pacientes podem reagir a outros alimentos da mesma família. Um estudo retrospectivo recente feito por Tan and Smith8 encontrou 31 adultos dentre seus pacientes com sintomas sugestivos de possível FPIES ou Alergia Alimentar não mediada por IgE, embora eles não foram confirmados por TPOs. A maioria das reações foram devido a frutos do mar (moluscos, crustáceos e peixe) e ovo, mas outros alimentos como amendoim, amêndoas, cogumelos, milho, frango e pato também foram observados.
Dilemas Clínicos
Muitos alergistas descrevem que sintomas sugestivos da FPIES são ocasionalmente relatados por pacientes adultos, e se referem principalmente à ingestão de frutos do mar. Entretanto, um diagnóstico definitivo é raramente obtido, uma vez que os pacientes recusam os TPOs devido a gravidade das reações, mesmo anos após o episódio. Como muitos adultos não consideram muito complicado eliminar frutos do mar ou um fruto do mar específico das suas dietas, eles não vêem necessidade de se aprofundar no diagnóstico. FPIES é também frequentemente diagnosticada erroneamente como gastroenterite, intoxicação por peixes escombrí-deos ou intolerância alimentar.
Em Resumo
FPIES é uma Alergia Alimentar rara e potencialmente grave que é frequentemente diagnostica erroneamente. Uma suspeita muito forte é necessária para se fazer este diagnóstico. Mais estudos observando a FPIES em adultos são necessários para melhor descrever esse fenômeno, focando no início das reações em adultos, ou casos não solucionados (mas frequentemente diagnosticados erroneamente) de FPIES desde a infância, alimentos relacionados a FPIES em adultos e protocolos dos TPOs em adultos.
Referências
1. Fernandes BN, Boyle RJ, Gore C, Simpson A, Custovic A. Food protein-induced enterocolitis syndrome can occur in adults. J Allergy Clin Immunol; 130:1199-200. 2. Mane SK, Bahna SL. Clinical manifestations of food protein-induced enterocolitis syndrome. Curr Opin Allergy Clin Immunol; 14:217-21. 3. Feuille E, Nowak-Wegrzyn A. Definition, etiology, and diagnosis of food protein-induced enterocolitis syndrome. Curr Opin Allergy Clin Immunol; 14:222-8. 4. Boyce JA, Assa'ad A, Burks AW, Jones SM, Sampson HA, Wood RA, et al. Guidelines for the diagnosis and management of food allergy in the United States: report of the NIAID-sponsored expert panel. J Allergy Clin Immunol; 126:S1-58. 5. Caubet JC, Nowak-Wegrzyn A. Current understanding of the immune mechanisms of food protein-induced enterocolitis syndrome. Expert Rev Clin Immunol; 7:317-27. 6. Leonard SA, Nowak-Wegrzyn A. Clinical diagnosis and management of food protein-induced enterocolitis syndrome. Curr Opin Pediatr; 24:739-45. 7. Venter C, Groetch M. Nutritional management of food protein-induced enterocolitis syndrome. Curr Opin Allergy Clin Immunol; 14:255-62. 8. Tan JA, Smith WB. Non-IgE-mediated gastrointestinal food hypersensitivity syndrome in adults. J Allergy Clin Immunol Pract; 2:355-7 e1.
#fpiesemadultos #fpiespeixe #ifpies #fpiesovo #fpiesoleaginosas #fpiesreacaograve #diagnosticodificil #brasil #alergiaalimentar #choquehipovolemico #divulgação #fpies #fpiesaguda #fpiesbrasil #fpiesbrasil #institutogirassolprimeiraauladefpiesfpiesenterocoliteinduzidaporproteinaalimentaralergiaalimentar #sindromedaenterocoliteealimentosassados #sindromedaenterocoliteinduzidaporproteinaalimentar #tprovocaçãooral
Comments